Gramado Sintético vs. Natural: O Mito do Risco de Lesão no Futebol Profissional Desvendado!

O futebol profissional é um esporte de alta intensidade onde cada detalhe, desde o treinamento até a superfície do campo, é escrutinado. Nos últimos anos, o uso de gramados artificiais (AT) de terceira geração tem crescido, especialmente em regiões mais frias, como o norte da Europa. Isso se deve às suas vantagens práticas, como maior resistência às intempéries e manutenção simplificada. No entanto, o gramado natural (NG) sempre foi a superfície tradicional. Muitos jogadores profissionais expressam percepções negativas em relação ao gramado sintético, chegando a considerá-lo um fator de risco significativo para lesões. Mas o que a ciência diz sobre o risco de lesões? Um estudo recente, focado na principal divisão finlandesa (Veikkausliiga), buscou comparar a incidência de lesões em partidas disputadas em grama natural versus grama artificial.

Lino Matias

11/28/20254 min read

A Pesquisa Finlandesa: Comparando Gramados

O estudo, realizado na Finlândia durante a temporada de 2019, analisou retrospectivamente dados coletados prospectivamente de vigilância de lesões em 12 equipes da Veikkausliiga.

O foco estava em determinar se havia um aumento no risco geral de lesão em jogos disputados em campos de grama sintética de terceira geração, que seguem os padrões FIFA Quality Pro.

Metodologia do Estudo

  • População: 236 jogadores masculinos da primeira divisão finlandesa.

  • Exposição: 4.398 horas de exposição em jogo, sendo 2.387 horas em gramado sintético e 2.011 horas em gramado natural.

  • Definição de Lesão: Qualquer queixa física sustentada durante a partida, independentemente da necessidade de assistência médica ou perda de tempo.

  • Lesões Agudas: Apenas lesões agudas (resultantes de um único evento identificável) foram incluídas; lesões por overuse (uso excessivo) foram excluídas.

Incidência Geral de Lesões: Sem Diferença Significativa

O resultado principal é encorajador para o uso de gramados sintéticos modernos. Embora a incidência geral de lesões por 1000 horas de exposição tenha sido ligeiramente maior no artificial, a diferença não foi estatisticamente significativa.

  • Incidência no Gramado Sintético (AT): 27,2 lesões por 1000 horas.

  • Incidência no Gramado Natural (NG): 23,9 lesões por 1000 horas.

  • Razão da Taxa de Incidência (IRR): 1,1 (IC 95%, 0,8-1,7).

Em resumo, este estudo apoia relatórios anteriores que indicam que não há um aumento significativo no risco geral de lesão para jogadores de futebol profissional em gramado sintético em comparação com o natural.

Análise Detalhada: Tipos e Regiões de Lesão

O estudo também segmentou os dados para verificar se o tipo ou a localização da lesão variava significativamente entre as duas superfícies. Lesões no membro inferior (perna, tornozelo, coxa) são as mais comuns no futebol.

Tipos de Lesões: Destaque para Distensões

As distensões musculares/tendinosas foram o tipo de lesão mais frequente em ambas as superfícies.

  • Houve uma incidência relativamente maior de distensões em gramado artificial (13,4/1000h) versus natural (9,0/1000h), mas essa diferença não foi estatisticamente significativa.

  • A maioria das distensões ocorreu na área do membro inferior.

  • Não houve diferença clara no risco de entorses (articulação/ligamento) ou fraturas/contusões entre os campos.

Regiões Anatômicas: Membro Inferior

Cerca de 81% de todas as lesões ocorreram no membro inferior. A incidência de lesões no membro inferior foi maior em gramado artificial (23,9/1000h) do que no natural (16,9/1000h), mas, novamente, o resultado não foi significativo devido ao amplo intervalo de confiança (IRR, 1,4; 95% CI, 0,9-2,2).

  • Não houve evidência de diferença significativa em subgrupos específicos do membro inferior (quadril/virilha, coxa, joelho, perna, tornozelo/pé).

  • O estudo notou uma incidência relativamente maior de lesões no tornozelo/pé no artificial, mas sem significância estatística.

Severidade e Recorrência de Lesões

Não houve diferença significativa na severidade da lesão entre as superfícies, sendo a maioria classificada como leve (1-7 dias de ausência) ou moderada (8-28 dias). O mesmo se aplica à taxa de recorrência de lesões.

Posição do Jogador: Um Fator Surpreendente

A análise da incidência de lesões por posição de jogo revelou um achado notável, embora de borda de linha estatística.

  • Defensores e Meio-campistas tiveram incidências de lesão relativamente altas em ambas as superfícies.

  • Para a posição de Atacante (Forwards), a incidência de lesões em gramado artificial (33,8/1000h) foi mais de três vezes maior do que no gramado natural (9,9/1000h).

  • A Razão da Taxa de Incidência (IRR) foi de 3,4 (IC 95%, 1,0-11,8), sugerindo um potencial risco aumentado para atacantes no gramado sintético.

  • Não houve diferença nas outras posições.

Apesar do achado de borda de linha, o estudo ressalta que nenhuma conclusão clara pode ser feita sem pesquisas adicionais.

Conclusão: O Veredito Sobre a Segurança

Este estudo finlandês fornece uma evidência importante no debate sobre as superfícies de jogo. Os resultados solidificam a posição de que, de forma geral, o gramado sintético de terceira geração não apresenta um risco significativamente maior de lesão em comparação com o gramado natural em partidas de futebol profissional.

A conclusão central para clubes, federações e jogadores é clara:

Lesões não devem ser usadas como um argumento contra o gramado sintético ao tomar decisões sobre superfícies de jogo.

Olhando para o Futuro do Futebol

O estudo reconhece que o número de lesões, especialmente em subgrupos, foi relativamente baixo, o que afeta a precisão de algumas estimativas. Além disso, fatores climáticos (temperatura, chuva) não foram controlados, o que é uma limitação importante.

Com a popularidade do gramado artificial em ascensão (na Finlândia, poucas equipes profissionais ainda têm gramado natural como campo principal ), a vigilância contínua da segurança e o estudo de novas gerações de materiais (como os com bioenchimento) são cruciais. O campo de jogo está evoluindo, e a ciência continua a monitorar seu impacto na saúde e segurança dos jogadores.

REFERÊNCIA: Immonen V, Kurittu E, Kuitunen I, Vasankari T, Leppänen M. No Increased Injury Risk on Artificial Turf in Finnish Premier Division Football. Clin J Sport Med. 2024 Nov 1;35(6):663–8. doi: 10.1097/JSM.0000000000001296. Epub ahead of print. PMID: 39485701; PMCID: PMC12560186.