Creatinina: O Marcador Bioquímico Chave para Desvendar a Adaptação de Iniciantes ao Treinamento Fitness

Descubra como um simples exame de sangue pode otimizar seu treino e acelerar seus resultados. O mundo do fitness está em constante busca por métodos mais eficazes e seguros para monitorar o progresso e garantir que o corpo esteja se adaptando positivamente ao estresse do treinamento físico. Para quem está começando, entender como o corpo reage às novas cargas de treino é crucial para evitar o esgotamento e maximizar a adaptação a longo prazo. Recentemente, a pesquisa científica tem focado em identificar marcadores bioquímicos informativos no sangue que possam fornecer insights em tempo real sobre as respostas adaptativas do organismo. Um desses marcadores, a creatinina sérica, está emergindo como um indicador valioso, especialmente para indivíduos não treinados que se aventuram em programas de treinamento fitness. Este artigo explora as descobertas de um estudo que investigou a dinâmica da concentração de creatinina no soro sanguíneo de homens não treinados submetidos a diferentes regimes de cargas de treinamento. Os resultados não apenas confirmam a utilidade da creatinina, mas também destacam a superioridade de um regime específico de treino para a adaptação inicial e o crescimento muscular.

Lino Matias

12/10/20254 min read

O Que é Creatinina e Sua Relação com o Músculo?

A creatinina é um indicador bioquímico do sangue. Ela reflete as peculiaridades do mecanismo creatina-fosfoquinase de fornecimento de energia para a atividade muscular.

  • A creatinina é o produto final do metabolismo do fosfato de creatina.

  • É essencial para entender como a energia é mobilizada durante exercícios de alta intensidade.

  • Seu nível no sangue está intimamente ligado ao volume da massa muscular de uma pessoa saudável.

  • O monitoramento da sua concentração indica o estado de todo o sistema creatina-fosfoquinase e seu efeito no aumento das reservas funcionais do corpo.

Tipos de Cargas de Treinamento e Desenho do Estudo

O estudo analisou 50 homens não treinados, de 18 a 20 anos, divididos em dois grupos que utilizaram regimes de carga de treinamento distintos por um período de três meses.

Grupo A: Baixa Intensidade e Alto Volume (R_a = 0.53)

O Grupo A utilizou um regime de baixa intensidade e alto volume de carga.

  • Foco: Acelerar o crescimento da massa muscular, conforme sugerido por especialistas.

  • Características: Maior volume de carga total em um set (Wn) em comparação com o Grupo B.

  • Resultados em Wn: O volume de carga em um set (Wn) foi consistentemente mais alto, aumentando em 34.5% ao longo de 3 meses.

Grupo B: Alta Intensidade e Baixo Volume (R_a = 0.72)

O Grupo B utilizou um regime de alta intensidade e baixo volume de carga.

  • Foco: Aumento acelerado da força muscular máxima (1RM) e alterações adaptativas mais pronunciadas.

  • Características: Redução do período de descanso entre os sets e aumento da massa de trabalho do projétil (m) em 14.3%.

  • Resultados em 1RM: O índice de força muscular máxima (1RM) cresceu quase 3 vezes mais rápido que no Grupo A.

Resultados da Adaptação: Força, Medidas Corporais e Massa Muscular

Os resultados após 3 meses de treinamento revelaram uma clara diferença na manifestação das alterações adaptativas no corpo entre os grupos.

Aceleração do Crescimento da Força e Massa de Trabalho

  • O Grupo B, com alta intensidade, apresentou um aumento de 50.6% na massa de trabalho do projétil (m).

  • O Grupo A, com alto volume, aumentou a massa de trabalho em 19.6%.

Crescimento da Circunferência Corporal (Massa Muscular)

O regime de alta intensidade e baixo volume (Grupo B) demonstrou ser o mais eficaz para o crescimento muscular.

  • Circunferência do Ombro: Aumento de 11.7% no Grupo B versus 5.9% no Grupo A.

  • Circunferência do Peito: Aumento significativo de 4.5% no Grupo B.

  • Massa Livre de Gordura (FFM): O Grupo B aumentou em 4.4%, com o Grupo A apresentando menos da metade dessa progressão.

As mudanças adaptativas mais pronunciadas foram observadas no Grupo B, confirmando que o regime de alta intensidade e baixo volume influencia mais eficazmente o aumento da força muscular máxima e o crescimento da massa muscular.

O Papel Crucial da Creatinina na Adaptação de Longo Prazo

As alterações na concentração de creatinina no soro sanguíneo foram o cerne do estudo, fornecendo insights sobre a ativação do mecanismo creatina-fosfoquinase na adaptação a longo prazo.

Antes do Treinamento: Baixa Resistência Inicial

No início do estudo, a creatinina sérica diminuiu ligeiramente em resposta à carga de treino em ambos os grupos, em comparação com o estado de repouso.

  • Isso indica um baixo nível basal de resistência corporal à carga de treino inicial.

  • O organismo não conseguia ativar os mecanismos de adaptação urgente (creatina-fosfoquinase) para suprir a necessidade de energia, utilizando principalmente o mecanismo anaeróbico de lactato.

Após 3 Meses: Creatinina como Marcador de Adaptação

Após 3 meses, as respostas da creatinina foram distintas e altamente informativas, dependendo do regime de treino.

1. Resposta Aguda Pós-Treino (Uso de Creatina Fosfato)

  • Grupo A (Alto Volume, Baixa Intensidade): A concentração de creatinina aumentou em 11.1% após o treino.

    • Significado: Isso demonstra que o corpo se adaptou usando intensamente o mecanismo creatina-fosfoquinase para formação de energia em um regime de alto volume.

  • Grupo B (Alta Intensidade, Baixo Volume): A concentração aumentou 6.8% após o treino.

2. Nível Basal (Marcador de Crescimento Muscular e Adaptação de Longo Prazo)

  • Grupo B (Alta Intensidade, Baixo Volume): O nível basal de creatinina (em repouso) aumentou significativamente em 17.6% após 3 meses, em comparação com os dados iniciais.

    • Significado: Esse aumento basal está diretamente associado ao crescimento da massa muscular e, consequentemente, ao aumento do valor do fornecimento de energia por creatina-fosfoquinase.

    • O aumento basal da creatinina é um forte indicador de adaptação positiva e aumento do nível de treinamento, refletindo o crescimento dos índices morfométricos.

  • Grupo A (Alto Volume, Baixa Intensidade): O nível basal de creatinina permaneceu praticamente inalterado.

Conclusão e Aplicações para o Treinamento Fitness

A análise dos resultados reitera a necessidade de utilizar o índice do nível basal de creatinina no sangue como um marcador informativo para avaliar o processo de adaptação de longo prazo durante o treinamento fitness, especialmente em regimes de alta intensidade e baixo volume.

Principais Takeaways para Seu Treino:

  1. Foco na Intensidade para Iniciantes: O regime de alta intensidade e baixo volume (R_a = 0.72) demonstrou ser o mais eficaz para não treinados, levando a um aumento mais pronunciado da força muscular e da massa muscular.

  2. Creatinina Basal como Sinal de Progresso: Um aumento no seu nível basal de creatinina (em repouso) é um forte sinal bioquímico de que o crescimento muscular e a adaptação positiva estão ocorrendo.

  3. Monitoramento Bioquímico: O controle da creatinina sérica permite aos treinadores e atletas diagnosticar a adequação das cargas de treino ao nível de adaptação, prevenindo a exaustão e o fracasso da adaptação.

Ao otimizar os parâmetros de intensidade em vez de apenas aumentar o volume, é possível fornecer o estímulo de estresse ideal para a adaptação de longo prazo, reduzindo o risco de lesões e a necessidade de um aumento constante na carga de treinamento. Portanto, para maximizar a sua adaptação ao fitness, a intensidade é a chave, e a creatinina é o espelho bioquímico do seu sucesso!

REFERÊNCIA: Chernozub A, Potop V, Korobeynikov G, Timnea OC, Dubachinskiy O, Ikkert O, Briskin Y, Boretsky Y, Korobeynikova L. Creatinine is a biochemical marker for assessing how untrained people adapt to fitness training loads. PeerJ. 2020 May 22;8:e9137. doi: 10.7717/peerj.9137. PMID: 32509455; PMCID: PMC7247523.