A Chave para a Mobilidade: Como o Poder de Subir Escadas Revela a Saúde do Seu Joelho com Osteoartrite

A Chave para a Mobilidade: Como o Poder de Subir Escadas Revela a Saúde do Seu Joelho com Osteoartrite Introdução: O Desafio da Osteoartrite de Joelho A osteoartrite (OA) é uma condição que afeta mais de 500 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo o joelho a articulação mais comumente atingida. Esta doença musculoesquelética é um fator importante para a incapacidade a longo prazo , e sua incidência deve aumentar com o envelhecimento da população e o aumento das taxas de obesidade. Pacientes com osteoartrite de joelho frequentemente enfrentam uma qualidade de vida reduzida, dor e uma notável diminuição no desempenho funcional. Embora a fraqueza muscular seja um problema conhecido, a ciência aponta cada vez mais para a potência muscular como o preditor mais forte da função física diária. Um estudo recente e impactante explorou uma forma simples, acessível e altamente relevante de medir essa potência: o Teste de Potência de Subida de Escadas (TSE). Este artigo revela a forte associação entre a potência de subir escadas e a capacidade de realizar tarefas essenciais, solidificando o TSE como uma ferramenta vital para o monitoramento da reabilitação para osteoartrite.

Lino Matias

11/21/20255 min read

Osteoartrite de Joelho: Uma Epidemia de Mobilidade Limitada

A prevalência da OA do joelho chega a 365 milhões de indivíduos anualmente, sendo uma das condições que mais contribui para a perda de mobilidade e para a dependência. A dor e a rigidez limitam as atividades diárias, mas a raiz da limitação física vai além do sintoma.

A progressão da osteoartrite leva a uma série de déficits físicos, que incluem:

  • Redução da Força Muscular: Uma diminuição na capacidade de gerar força máxima.

  • Diminuição da Potência Muscular: A dificuldade em gerar essa força rapidamente, crucial para o movimento.

  • Deterioração do Desempenho Funcional: A dificuldade em realizar tarefas como caminhar rápido ou levantar-se de uma cadeira.

Entender esses fatores é crucial, pois tratar apenas a dor não resolve a perda de função.

Potência Muscular vs. Força: O Fator Crítico na Reabilitação

Historicamente, a força muscular (MVIC) tem sido o foco principal na avaliação clínica. No entanto, pesquisas recentes, reforçadas por este estudo, sugerem uma mudança de paradigma.

A potência muscular dos extensores da perna (LEP) — definida como a capacidade de mover uma carga rapidamente — é considerada um preditor superior da performance funcional em pacientes com OA de joelho.

A razão é simples: muitas Atividades da Vida Diária (AVDs) exigem velocidade, e não apenas força máxima.

  • Levantar de uma cadeira rapidamente (Sit-to-Stand).

  • Subir escadas.

  • Caminhar em ritmo acelerado.

Essas ações do dia a dia dependem de altos níveis de potência. Portanto, a avaliação da potência muscular é essencial para monitorar a progressão da doença e a eficácia da reabilitação para osteoartrite.

O Teste de Subida de Escadas (TSE): Uma Ferramenta Clínica Simples e Poderosa

A avaliação da potência de forma objetiva, como em laboratório (p. ex., Nottingham Power-Rig), nem sempre é viável em ambientes clínicos. É aí que entra o Teste de Potência de Subida de Escadas (SCT Power).

O TSE é:

  • Custo-efetivo: Requer apenas um lance de escadas e um cronômetro.

  • Simples de Administrar: Os participantes sobem e descem 10 degraus o mais rápido possível.

  • Funcional: Simula uma tarefa da vida real que exige alta potência.

O estudo, que analisou 96 pacientes com OA de joelho, buscou validar o TSE como um indicador de função. As descobertas confirmaram que o TSE é um método viável para estimar o LEP (Potência dos Extensores da Perna) e monitorar o desempenho funcional na OA.

A Incrível Correlação: TSE e a Sua Capacidade Funcional

Os resultados mostraram associações notavelmente fortes entre o TSE e as medidas de desempenho funcional, validando sua relevância na avaliação da força muscular diária.

1. Velocidade de Marcha (4x10m-FWT) A velocidade de marcha em ritmo acelerado é uma medida crucial de mobilidade.

  • Houve uma correlação forte (r=0.80) entre o TSE e a velocidade de marcha.

  • A potência de subir escadas explicou 64% da variação observada na velocidade de marcha dos participantes.

  • Isso sugere que a capacidade de subir escadas é um excelente indicador de quão bem o paciente consegue se locomover rapidamente em superfícies planas.

2. Desempenho Sentar-e-Levantar (STS) O teste Sentar-e-Levantar (STS) mede o número de repetições em 30 segundos, sendo um indicador direto da capacidade de se levantar de uma cadeira.

  • Foi observada uma correlação forte (r=0.72) entre o TSE e o desempenho no STS.

  • O TSE foi responsável por 52% da variação no desempenho do STS.

Essas descobertas implicam que o TSE pode servir como um instrumento sensível e prático para o clínico que monitora o desempenho funcional geral, incluindo a marcha e o STS, em adultos com OA de joelho.

O Elo entre o TSE e a Saúde Muscular Objetiva

O estudo não se limitou à função diária. Ele também comparou o TSE com medidas objetivas e de laboratório da função muscular.

  • Potência Muscular Isolada (Nottingham LEP): O TSE apresentou correlação moderada (r=0.64) com a potência medida no Power-Rig de Nottingham, um padrão-ouro em laboratório.

  • Força Isométrica (MVIC): A correlação com a força máxima de extensão do joelho foi moderada (r=0.61).

  • Taxa de Desenvolvimento de Força (RFD): Houve correlação moderada (r=0.53-0.60) com a capacidade de gerar força rapidamente.

Essas associações moderadas reforçam a noção de que o TSE é um substituto funcional válido para a avaliação da função mecânica do membro inferior, sendo uma excelente opção clínica.

Em relação aos Resultados Relatados pelos Pacientes (PROMs), como as subescalas KOOS e o OKS, o TSE mostrou correlações fracas a moderadas (r=0.22-0.42). Isso sugere que, embora a potência esteja ligada à percepção de dor e qualidade de vida, o impacto na função objetiva é o mais forte.

O Caminho para Melhorar a Potência e a Mobilidade

Os achados do estudo reforçam a importância de integrar o treino de potência muscular para subir escadas nos protocolos de reabilitação para osteoartrite.

Em vez de focar apenas em levantar pesos máximos (força), o objetivo deve ser gerar força rapidamente. Para o paciente com OA de joelho, isso significa que a avaliação e o monitoramento da potência muscular não devem ser negligenciados.

Para profissionais e pacientes focados em melhorar a potência muscular, algumas diretrizes são sugeridas, baseadas na importância dos testes funcionais correlacionados com o TSE:

  • Treinamento de Potência Específico: Enfatizar exercícios de resistência que são realizados em alta velocidade, mesmo que com carga mais baixa. Isso pode incluir a prensa de pernas ou extensões de joelho realizadas de forma explosiva.

  • Foco no Teste Sentar-e-Levantar Rápido: Praticar a repetição do STS o mais rápido e vigorosamente possível, pois a potência do STS está fortemente ligada ao TSE.

  • Caminhada em Ritmo Acelerado: Incorporar sessões de caminhada mais rápida no treinamento, já que a velocidade de marcha é altamente dependente da potência medida pelo TSE.

  • Monitoramento Clínico: Utilizar o TSE (Stair Climb Test) regularmente no consultório para monitorar de forma simples, mas eficaz, a melhoria da função do paciente.

A medição da potência muscular para subir escadas oferece aos clínicos e pesquisadores uma ferramenta de avaliação da força muscular prática e sensível.

Conclusão: Priorizando a Potência para uma Vida Mais Ativa

O estudo de Sørensen et al. forneceu evidências robustas de que a potência de subir escadas é um indicador fundamental da saúde funcional do paciente com osteoartrite de joelho. A forte associação com a velocidade de marcha e o teste Sentar-e-Levantar o estabelece como um biomarcador de desempenho prático e altamente relevante.

O foco na potência muscular é o futuro da reabilitação para osteoartrite, pois melhora diretamente a capacidade do indivíduo de realizar as atividades dinâmicas e rápidas da vida diária. Ao incorporar o simples Teste de Subida de Escadas (TSE) na rotina clínica, é possível avaliar com mais precisão a função do membro inferior e guiar o paciente para um treinamento que resulta em menos dor e mais autonomia. Focar na potência é o caminho para recuperar a mobilidade perdida.

REFERÊNCIA: Sørensen B, Aagaard P, Couppé C, Suetta C, Johannsen FE, Magnusson SP. Stair climb muscle power is associated with gait speed, sit-to-stand performance, patient-reported outcomes and objective measures of mechanical muscle function in individuals with knee osteoarthritis - secondary analysis from an RCT. Musculoskelet Sci Pract. 2025 Jun;77:103332. doi: 10.1016/j.msksp.2025.103332. Epub 2025 Apr 11. PMID: 40250139.